segunda-feira, 27 de julho de 2009

pelas sete horas da tarde o senhor disse ao menino para não pôr vírgulas.

domingo, 26 de julho de 2009

vão duas senhoras a conversar no autocarro:
- achas que o teu filho era capaz de fazer uma coisa dessas? - pergunta a primeira
- acho que o meu filho anda perdido. - responde a segunda
está tudo igual

quinta-feira, 23 de julho de 2009

as praias de agnès

Em As praias de Agnès vemos uma senhora de idade "roliça" e trapalhona a colocar espelhos à beira-mar. As imagens das ondas reflectidas prolongam o movimento da água. A ilusão é de que a terra foi inteiramente inundada. Ficamos desorientados com as direcções opostas das ondas ao mesmo tempo que a "senhora roliça" impõe os seus caprichos à produção: "agora este espelho mais ali, agora quero filmar o teu reflexo a olhar para a câmara, agora quero movimentar-me graciosamente por entre os espelhos enquanto vocês me filmam". É tudo um jogo. É apenas um jogo.
Depois começa-se a falar Da vida e Das ideias. No entanto, a espontaneidade e imaginação mantêm-se. Rolam as figuras do cinema e da arte francesa pelo ecrã da mesma forma como são descontraidamente reveladas inconfidências familiares: "às vezes sinto que não os conheço a todos". (os filhos e os netos) Mas não faz mal, não há julgamentos, há apenas histórias.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

amor

Existem tarefas que, pela sua natureza ou pela natureza que aparentam ter, são vistas como arriscadas.
O risco é característica comum de todas as formas de arte: quer pela exposição do seu autor, quer pelas consequências que essa exposição possa provocar nos outros.
Amor, apresentado esta segunda-feira em frente ao S. Carlos, é um daqueles textos que não tem medo de correr riscos.
Ter sido adiado deu-lhe uma óptima publicidade. "Agressivo; poderia ferir susceptibilidades visto que o acesso ao espectáculo não era controlado". Mas ainda existe alguém que se choque com a palavra "buceta"?
O problema de Amor estava no facto de ser um texto muitíssimo mais político do que romântico. Se fosse apenas uma descrição brejeira da "sueca a olhar para o páu negro do Pelé" ninguém se daria ao trabalho de proibir a sua apresentação. Mas Amor dirige-nos o olhar para "a agonia do povo esguichando sangue". A sexualidade do texto confunde-se com crítica social: e é na crítica social que se torna provocador.
Em tempos de crise e de gripe, Amor ao ar livre não vem nada a calhar.
Ouço na rádio, diz a locutora: "por isso é que tu és o melhor", responde, o convidado, depois de dois sorrisos: "obrigado".

terça-feira, 21 de julho de 2009

"Esta voz que gritei às vezes
não me consola de só ter gritado às vezes"
Jorge de Sena